O que o mundo mais precisa em 2019 é de um grande jornalismo, diz publisher do NYT
A mensagem é um dos pontos centrais de carta do publisher A.G. Sulzberger às equipes do The New York Times.
Em meio ao crescente uso da desinformação digital para dividir sociedades e minar democracias, o que o mundo mais precisa em 2019 é de um grande jornalismo, confiável, criativo e produzido em diferentes narrativas, de forma palatável e à disposição das pessoas em todos meios. A mensagem é um dos pontos centrais de carta do publisher A.G. Sulzberger às equipes do The New York Times – um dos mais influentes jornais do mundo – sobre os desafios do diário em 2019, a começar pelo lançamento do programa noticioso de TV "The Weekly". O conceito defendido por Sulzberger também está presente na maioria das projeções feitas por especialistas sobre os desafios do setor jornalístico neste ano.
No memorando aos funcionários, o publisher do The New York Times diz que uma das razões pelas quais o jornal decidiu investir no "The Weekly" é o atual estágio dos hábitos dos consumidores de notícias, em permanente transformação na era digital. “As pessoas estão procurando por uma única fonte de notícias em que possam confiar, em todas as formas. E acredito que o The New York Times está melhor posicionado para ser essa fonte confiável”, diz.
Além do "The Weekly", programa em parceria com o canal a cabo FX sobre uma ou duas reportagens mais importantes do jornal a cada semana, A.G. Sulzberger enumera uma série de iniciativas que envolvem textos, imagens, vídeos, gráficos e áudios que, via online, levaram a qualidade do jornalismo do The New York Times para uma ampla audiência. “O The Daily tornou-se o podcast mais baixado do ano. A voz de Michael Barbaro alcança mais pessoas a cada manhã do que o jornal impresso jamais alcançou”, comemora.
O publisher lembra que a equipe de vídeo do jornal já acumula 34 indicações ao Emmy e ao Oscar nos últimos anos e cita uma série de outros produtos jornalísticos em diferentes formatos, mas sempre marcados pelo profundo exercício da reportagem, segundo ele. “O fato de sermos reconhecido no The Times em todos esses diferentes formatos mostra como estamos navegando na transição digital. E isso mostra o quão grande acreditamos que seja essa oportunidade para a empresa nos próximos anos”, afirma A.G. Sulzberger.
Jornalismo qualificado precisa ser atraente
Na prática, o The New York Times segue uma trilha planejada há anos pelo jornal, semelhante às apontadas por diversos analistas. Um deles é Charlie Beckett, jornalista, professor de mídia da London School of Economics and Political Science (LSE), da Universidade de Londres, e diretor da think-tank Polis. Beckett defende a constante qualificação jornalística e, mais do que isso, a necessidade de apresentar essa qualidade à audiência de forma que ela possa compreendê-la, gostar e continuar a consumir os conteúdos jornalísticos confiáveis. Dessa forma, evitando a desinformação.
“O que é [jornalismo de] qualidade em uma época em que o pessoal e o emocional são fatores importantes de interesse público? (...) Como podemos encontrá-la [qualidade jornalística] em uma época de jornalismo sem intermediação, distribuído e sob demanda, que se mistura aos nossos feeds de notícias e mecanismos de recomendação individuais, orientados por inteligência artificial?”, pergunta Beckett em artigo publicado em junho do ano passado no site Medium.
Para chegar às melhores repostas a essas indagações, o jornalista diz que o primeiro passo a ser dado é tornar o jornalismo qualificado em algo legível, incluindo narrativa e design atrativos. O segundo passo é ajudar os leitores a encontrar a qualidade, driblando os mecanismos de recomendação das redes sociais e mídias de busca online. Para tanto, afirma, é preciso curadoria e personalização, com constante feedback, interação e engajamento.
Além disso, ressalta Beckett, as organizações de notícias precisam ir muito além do relato, a exemplo do que tem feito o The New York Times. “No mundo imediatamente conectado de hoje, a oportunidade real de agregação de valor é contexto, análise e comentário. Também é experiência e pesquisa. Investigue e revele. Pare de duplicar. Deixe a rotina para automação”, recomenda.
Nesse processo, é preciso levar em consideração que emoções, sentimentos, identidade e valores são partes vitais da vida das pessoas, diz o jornalista. “Algumas pessoas gostam de se manter informadas, o que é uma boa notícia para jornalistas que produzem reportagens baseadas em evidências. Mas o consumo de notícias hoje também é sobre ritual, diversão, espetáculo e prazer. Pare de tratar essas razões como inferiores”, alerta Beckett.
Por fim, o especialista sugere aos profissionais de imprensa algo que eles com frequência procuram oferecer a suas audiências: novos horizontes. “Nós sempre entendemos nosso mundo através de outras mídias além do jornalismo. Talvez devêssemos olhar para a expressão cultural que informa e influencia, como o drama ou mesmo a música. Talvez seja hora de buscarmos colaboração com outros comunicadores e criativos fora do setor”, diz.
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