10/06/2022

Bolsonaro pede, mas tentativas de congelar supermercados falharam

Por Agência O Globo






A quatro meses das eleições e com uma inflação acumulada de 11,73% em 12 meses até maio, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, fizeram um apelo em videoconferência a empresários do setor de supermercados. O presidente pediu “o menor lucro possível” na cesta básica e o ministro solicitou uma “trégua de preços”.

"Temos que dar agora juntos essa trégua nos preços, vamos ajudar a quebrar essa espiral inflacionária", afirmou Guedes, pedindo que os empresários “apertem o cinto”.

O ministro da Economia aproveitou uma sugestão dada pelo presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), João Galassi, no discurso de abertura do evento, de que a tabela de preços da indústria para o varejo só seja corrigida em 2023. E fez o apelo aos empresários.

"Nova tabela de preços só em 2023. Travem os preços. Vamos parar de aumentar os preços por uns dois, três meses. Nós estamos em uma hora decisiva para o Brasil", disse.

O comportamento dos preços, em particular o dos combustíveis, tem sido a principal dor de cabeça para a campanha à reeleição de Bolsonaro.

O presidente, que já pediu aos caminhoneiros que fotografem placas com preços de combustíveis nos postos, solicitou ao empresariado que tenha “o menor lucro possível” com a cesta básica:

"O apelo que faço aos senhores, para toda a cadeia produtiva, para que os produtos da cesta básica obtenham o menor lucro possível para a gente poder dar uma satisfação a uma parte considerável da população, em especial aos mais humildes", afirmou Bolsonaro, acrescentando que a margem de lucro dos empresários já diminuiu, mas pedindo que colaborem “um pouco mais”. "Se for atendido, agradeço muito. Se não for, é porque realmente não é possível.
Mais de 50 varejistas participaram da reunião e se comprometeram a repassar ao consumidor qualquer redução na cadeia produtiva. "


Não é a primeira vez que Bolsonaro faz esse tipo de apelo. Em 2020, diante da alta de itens básicos na cesta de compras do brasileiro, cobrou “patriotismo” do empresariado.

Na história recente do país, já coube à população o papel de fiscalizar preços na década de 1980, durante o governo de José Sarney (1985-1990), antes da estabilização da economia com o Plano Real. Na época, os “fiscais do Sarney” conferiam tabelas de preços distribuídas pelo governo e denunciavam os estabelecimentos que não seguiam o congelamento.

Alívio no IPCA em maio

Em outra frente na quinta-feira (9), a secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, afirmou que a cesta básica é muito complexa e ampla e defendeu um debate para focar nos itens realmente mais básicos consumidos pela população de menor renda.

"A lista do que é isento ficou muito complexa e ampla demais. Vale o debate para a gente focar e pegar os produtos realmente básicos, os produtos que as pessoas de renda mais baixa e vulneráveis realmente consomem e fazer algo mais acentuado para esses produtos mais básicos."

Atualmente, há isenção de PIS e Cofins, tributos federais, para itens que são considerados parte da cesta básica, ainda que não sejam triviais. Ela citou como exemplo alguns tipos de queijo.


Na quinta (9), Guedes comemorou o resultado do IPCA de maio, que ficou em 0,47% contra 1,06% em abril, e disse que a população não pode continuar a arcar com a alta de preços no patamar atual:

"A inflação começou a descer, acabamos de ter a primeira notícia da inflação começando a descer."

No ano, a inflação está em 4,78%, acima do centro da meta , de 3,5%. A desaceleração registrada em maio foi resultado da queda de 7,95% na energia elétrica, com o fim da cobrança da bandeira tarifária de Escassez Hídrica, que adicionava à conta de luz R$ 14,20 a cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos.

A perda de fôlego dos alimentos também contribuiu. O desempenho no mês passado veio ligeiramente abaixo das previsões de analistas, de alta de 0,6% em maio.

Economistas, porém, avaliam que o cenário é de incerteza e que não há garantia de que o alívio será duradouro, em razão da pressão disseminada de preços. No setor de serviços, em 12 meses, o patamar está na faixa de 10%. Além disso, citam preocupação com os impactos do pacote de subsídio ao combustível, que pode pressionar a inflação em 2023.

"A incerteza é grande porque não se sabe o que e quanto vai ser aprovado (no Congresso). É cedo para falar que a inflação perde força. Ainda há e m índice de difusão de 72,4% (que mede a quantidade de produtos e serviços que subiram no mês em relação ao total de itens pesquisados)", disse Júlia Passabom, economista do Itaú Unibanco.

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