EL PAÍS
Apesar de ser um país rico, escolas e estradas do país sofrem uma enorme deterioração devido à falta de investimento público
O caso dessa escola não é o mais escandaloso, muito menos isolado. Na Alemanha, as chamadas “escolas em ruínas” estão por todo o território nacional. São resultado de décadas de falta de investimento em um país que, no entanto, acumula um superávit recorde. Os alemães elegerão um novo Governo no domingo e o estado das escolas – e especialmente o dos vasos sanitários – se tornou um símbolo da deterioração da estrutura física de uma potência mundial que não conhece os números vermelhos.
As reclamações da escola de Frankfurt, no próspero estado federado de Hesse, poderiam parecer queixa de ricos, e são. Porque a Alemanha é um país rico, com um superávit fiscal recorde de 23,7 bilhões de euros (88 bilhões de reais) ou 0,8% do PIB, que, no entanto, vem arrastando os planos de investir na melhoria de sua infraestrutura deficiente. Investe-se, mas pouco e tarde, segundo os especialistas. O banco de desenvolvimento alemão KfW calcula que as cidades alemãs precisam de um investimento de 126 bilhões de euros em infraestrutura. Um total de 33 bilhões para escolas e 34 bilhões para rodovias.
“As pontes, os trens, as escolas… envelheceram e precisam ser substituídas ou reformadas”, concorda o economista Achim Truger, da Escola de Economia e Direito de Berlim. “O Governo considera o schwarze Null [o zero negro, que se refere a um orçamento saneado, sem dívidas] mais importante que o investimento público. A aversão à dívida é parte consubstancial do sistema político alemão. Temos ainda problemas herdados da austeridade imposta quando a Alemanha era o doente da Europa”, acrescenta Truger, explicando que a situação financeira varia muito entre a federação, os estados e os municípios, alguns deles endividados. Há quem culpe o chamado freio da dívida imposto por emenda constitucional em 2009, que limita o déficit do Governo central e dos Länder (como são chamados cada um dos 16 estados que compõem a federação alemã).
Os dois maiores partidos prometem em campanha mais investimento público nas escolas. O candidato social-democrata, Martin Schulz, quer que as autoridades sejam obrigadas a investir parte do superávit em infraestrutura e pede que o Estado central tenha mais voz em um tema vital a qualidade da educação e das escolas. Em princípio, é competência dos estados federados, mas Schulz pretende criar uma aliança nacional para a educação que invista 12 bilhões de euros nas escolas de todo o país e defende, além disso, uma reforma legal que formalize a cooperação entre o a federação e os estados. A chanceler Angela Merkel, que lidera as pesquisas, alega que o problema não é tanto a falta de recursos, mas a falta de planejamento de longo prazo, além de incontáveis gargalos burocráticos.
“Na Alemanha temos um problema geral. Também aqui em Hesse, apesar de ser um estado rico”, diz Kai Eicker-Wolff, do sindicato educativo GEW. Wolff calcula que só em Frankfurt seria necessário um investimento de 1 bilhão de euros devido ao abandono dos últimos anos. A situação em estados menos prósperos é muito pior.
As estradas são, junto com as escolas, as mais necessitadas de investimento. Uma viagem de carro entre Berlim e Frankfurt (547 quilômetros) pode demorar mais de sete horas sem paradas, apesar de não haver limite de velocidade em muitos trechos. Os desvios causados por obras e reparos nas rodovias são contínuos. Há obras que já se tornaram uma piada de mau gosto para os afetados. É o caso da ponte de Leverkusen, fechada há cinco anos para veículos pesados depois de apresentar fissuras e transformada em um engarrafamento permanente.
Outro caso divulgado é o do túnel de Rastatt, junto à fronteira francesa, onde um desmoronamento ocorrido no verão provocou a interrupção do tráfego ferroviário entre os dois países. O problema adicional é que parte das rotas alternativas estão em obras ou muito deterioradas, contribuindo para o caos logístico na região. Os atrasos e cancelamentos nos trens de passageiros são comuns e as composições frequentemente circulam tão lotadas que os viajantes se veem obrigados a sentar-se amontoados no chão.
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